Na Hipermídia

Blog de produção da disciplina Produção e Edição Multimídia, do Centro Universitário UNA. (prof. Jorge Rocha)

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Liberdade de expressão para quem?

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Perfil de Carolina Rocha no twitter

Uma pesquisa Internacional de Mercado de Trabalho, realizada pela empresa de recrutamento Robert Half, com 2525 executivos das áreas de finanças e de recursos humanos de 10 países revelou que o Brasil é o segundo país que mais dá importância e leva em consideração as publicações tidas como negativas ou “inadequadas” pelos empregadores, veiculadas pelos profissionais nas redes sociais.

Lendo assim, bem rápido, pode-se até pensar: estamos mais rigorosos nas nossas relações de trabalho e isso é bom! Principalmente para o consumidor final do produto, seja o seguimento qual for. Mas se parar para pensar pode-se descobrir que essa rigorosidade anda tirando o sono de muitos profissionais. O mais complicado nesses casos é definir até onde essa interferência dos empregadores nos hábitos sociais dos empregados é saudável, afinal, existe espaço para que as pessoas possam falar o que pensam e demonstrar o que realmente sentem, sem demagogias em meio aos seus “selecionados” grupos de amigos da web?
Não.

Nos últimos meses tomou-se ciência de uma série de casos nos quais profissionais foram demitidos de empresas (e até imprensa) por uso “indevido”, de acordo com a perspectiva do empregador, das redes sociais. Em caso mais recente, dois jornalistas da Folha de S. Paulo foram demitidos pelos comentários que fizeram sobre a cobertura do jornal, no episódio da morte de José Alencar, em seus tuíteres pessoais- vale frisar.

Os demitidos, Carolina Rocha e Alec Duarte, são experientes profissionais, engajados em muitos tipos de discussões socais, inclusive nas pesquisas sobre o uso das redes sociais, o que não impediu que eles fossem “traídos” pelo uso livre delas. Como a própria Carolina destaca em seu blog “O espaço da blogosfera dá a qualquer um a chance de divulgar o que passa pela sua cabeça a todo o momento. No jornalismo, sem o filtro da edição, essa modernidade tem sido uma fonte de problemas”. Isso acontece porque o profissional da imprensa já vem de fábrica com uma característica peculiar de inquietação constante, de relatar, delatar, opinar e criticar, mas descobre aos poucos que o espaço que poderia ser utilizado para essa prática – já que não é permitido, ou quase nada, na imprensa “oficial”- na verdade está lá apenas para encher os olhos dele, feito criança olhando um doce que não pode comer.

Várias empresas e redações do mundo inteiro já definiram normas de atuação para seus funcionários em redes sociais, entre elas figuram regras como: “Antes de se engajar em qualquer tipo de rede que lidam com esportes, você deve receber a permissão de seu editor ou chefe imediato”, ou seja, deve-se ao editor ou chefe a explicação sobre o que se faz ou com quem se anda até mesmo no mundo virtual.

Carolina Rocha preferiu não se manifestar publicamente sobre o caso, mas enviou à redação um texto, publicado em seu blog, em que exprimiu na ocasião, o que sentia e as conclusões pessoais tiradas do sobre o episódio. Nele a jornalista diz em argumentação ao artigo do ombudsman da Folha, publicado um dia depois de sua demissão: “Não é bom [para o jornal] admitir, em público, que o jornal que briga e exige liberdade de expressão pratica censura interna”.

Será mesmo esse o caminho que toda a imprensa nacional está trilhando? O da censura velada? E até onde podemos considerar essa reação dos empregadores normal? Afinal não é essa uma peculiar característica da internet: proporcionar aos seus usuários a liberdade de expressão que os outros meios não podem proporcionar?

Isso não está mudando, já mudou e nem nos damos conta.

No vídeo abaixo o advogado Diego Alves do Amaral explica que as empresas estão cada vez mais atentas ao mundo virtual e comenta que o ideal seria que as regras, relacionadas ao assunto, fossem estabelecidas já no momento da contratação.

Em tempo:  Alec Duarte, o ex-colega de trabalho de Carolina também foi procurado pela redação, mas até o momento do fechamento dessa matéria não havia respondido ao contato.

Por Danielle Gláucia e Thiago Almeida